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Meningite Meningocócica: Conheça as possíveis sequelas da doença, e saiba como se proteger!




Com a chegada do inverno e do frio em muitas regiões do país, cresce a preocupação com os casos de meningite meningocócica, cuja transmissão é favorecida pelo convívio em ambientes fechados ou pouco arejados. De forma geral, a meningite é uma inflamação das meninges, as membranas que revestem o encéfalo, incluindo cérebro, cerebelo e tronco encefálico, além da medula espinhal.


Ela pode ser causada por vírus, mais raramente por fungos ou parasitas, e mais frequentemente por bactérias, que levam ao seu tipo mais grave: a meningite meningocócica ou ainda doença meningocócica (DM), com taxa de mortalidade estimada de 20%. A doença pode evoluir muito rapidamente para um desfecho letal quando não tratada precocemente, e seus sintomas mais comuns incluem febre, dor de cabeça, manchas vermelhas no corpo, rigidez na nuca (dificuldade para levar o queixo até o peito), náusea, vômito, falta de apetite, irritabilidade, sonolência, sensibilidade aumentada à luz e letargia. 


Grupos de risco e sequelas


Embora a meningite possa acometer pacientes de qualquer idade, entre os principais grupos de risco estão aqueles com sistema imunológico enfraquecido ou ainda em formação, como idosos e crianças até os cinco anos, especialmente bebês, o que dificulta a percepção dos sinais. Em recém-nascidos, por exemplo, alguns dos sintomas não se manifestam ou é difícil notá-los, já que os pequenos ainda não podem verbalizar seu desconforto. Nesses casos, é preciso ficar atento a irritação, vômitos, inapetência ou apatia, e principalmente ao aspecto da moleira do bebê, que na doença pode se apresentar abaulado e protuberante. Grande parte dos pacientes de meningite manifesta uma ou mais sequelas após o término da infecção. Entre eles estão:


  • Perda da audição

  • Perda da visão

  • Incontinência urinária

  • Disfunções renais

  • Convulsões recorrentes (epilepsia)

  • Deficiência de aprendizado e de desenvolvimento

  • Déficit neurológico motor, com diminuição da força muscular

  • Problemas de equilíbrio

  • Paralisia cerebral


Diagnóstico e tratamento


Para chegar ao diagnóstico, é necessário que o médico realize exame clínico acompanhado dos exames laboratoriais que incluem análise do líquido cefalorraquidiano através de punção lombar, hemograma completo e diferencial, painel metabólico que possibilite comparar os níveis de glicose do sangue com os obtidos através da punção, e ainda hemoculturas mais PCR (Polymerase Chain Reaction). A critério médico, a punção para análise do líquido cefalorraquidiano pode ser protelada enquanto se realizam exames de imagem que excluam condições em que a punção é contraindicada, mas mesmo nesses casos, ainda antes de confirmado o diagnóstico, deve-se iniciar a terapia medicamentosa, devido à urgência dos quadros da doença. 


Diante da natureza agressiva dessa infecção bacteriana, o diagnóstico precoce desempenha um papel fundamental na identificação rápida dos casos, permitindo o início imediato do tratamento adequado. “Além disso, identificar rapidamente os casos de meningite meningocócica permite a implementação de medidas de controle e prevenção, ajudando a conter a disseminação da infecção na comunidade. Os laboratórios clínicos são os locais ideais para realização dos exames, devido à sua capacidade de oferecer resultados precisos e confiáveis em tempo hábil”, ressalta César Nomura, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).


O tratamento de todos os tipos de meningite, incluindo a meningite meningocócica, é hospitalar, e o tempo de internação varia entre dois a dez dias ou mais. Enquanto os casos de meningite viral costumam, em geral, ter evolução mais lenta, branda e benigna, com abordagem paliativa, nos casos de meningite meningocócica é recomendada a administração imediata de terapia antibiótica e com corticoides. No curso da doença podem surgir complicações como:


  • Infartos arteriais ou venosos devido a inflamação e trombose

  • Hidrocefalia (acúmulo de líquido nos tecidos do encéfalo)

  • Abscesso cerebral

  • Choque séptico

  • Hiponatremia (desequilíbrio nos níveis de sódio que interfere na contração do músculo cardíaco)


Prevenção e controle

A principal forma de transmissão da meningite meningocócica é similar à das doenças respiratórias, e os mesmos cuidados se aplicam. Deve-se evitar contato com aerossóis portadores da infecção, que são as gotículas de secreções do nariz e garganta expelidas pela tosse e espirro de pessoas contaminadas, mesmo que assintomáticas. Esses cuidados incluem higiene frequente das mãos, uso de máscara e evitar locais superlotados ou ambientes com pouca ou nenhuma ventilação. Mas a contaminação também pode estar presente na forma fecal-oral, ou seja, através de água e alimentos mal higienizados, o que evidencia a necessidade de consumir apenas produtos de origem conhecida e submetidos às boas práticas de higiene, além de promovê-las também no ambiente do lar.


Além disso, recomenda-se atenção redobrada ao comportamento e queixas infantis; a doença evolui muito rapidamente, por isso, ao sinal de choro inexplicável, letargia, irritabilidade, dor de cabeça e inapetência, considere buscar imediatamente uma unidade de saúde, mesmo que outros sintomas não estejam presentes.


No entanto, a imunização ainda é a forma mais eficaz de prevenir a meningite. Vale atualizar corretamente o cronograma infantil, com as seguintes vacinas conjugadas:


  • Haemophilus influenzae tipo B (HIB): crianças aos 2, 4 e 6 meses, com um reforço entre 12 e 18 meses. Para não vacinados, a partir de 5 anos, incluindo adultos, 2 doses com intervalo de 2 meses. 

  • Meningococo C: crianças entre 3 e 5 meses, 2 doses, administradas com intervalo de 60 dias, mais 1 dose de reforço aos 12 meses.

  • Meningococo B: crianças entre 12 e 23 meses, duas doses com intervalo de 2 meses, e 1 dose de reforço, respeitando o intervalo de 1 a 2 anos desde a última dose. Crianças a partir de 2 anos, adolescentes e adultos: 2 doses com intervalo entre 1 e 2 meses.  

  • Pneumocócica 10-valente: crianças entre 2 e 4 meses, com uma dose de reforço aos 12 meses.

  • Pentavalente: crianças até os 7 anos, mas preferencialmente 3 doses aos 2, 4 e 6 meses de vida.

  • Meningococo com os sorogrupos ACWY: crianças a partir dos dois meses. Adolescentes entre 11 e 14 anos, administrar 1 dose de reforço, ou dose única, conforme situação vacinal encontrada.

A meningite no Brasil

O Brasil experimentou uma grande epidemia de meningite meningocócica no início dos anos 1970, com centenas de milhares de casos e dezenas de milhares de mortes. O número exato não é conhecido. A tragédia foi agravada pelo fato de não existirem vacinas disponíveis, pois não eram produzidas no país naquela época. E isso enfatiza a importância de promover a imunização atualmente, quando ela felizmente já está acessível.


Nos últimos anos, vem se observando uma redução na cobertura vacinal de forma geral, que inclui as vacinas contra a meningite bacteriana. Em 2023, o Brasil registrou 8.877 casos de meningite, com 886 mortes, segundo dados coletados pelo Ministério da Saúde até setembro daquele ano. Torna-se muito importante, portanto, disseminar a informação, e conscientizar a população para a defesa contra essa doença tão grave.

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